Resolução do
Secretariado Nacional de 27 de Novembro de 2013
A UGT apresentou oportunamente as suas propostas e posições sobre a Proposta de Orçamento do Estado para 2014, considerando que esta não respondia às necessidades de crescimento económico e de emprego e iria agravar o desemprego, a pobreza e as desigualdades sociais.
O OE/2014 apresentado pelo Governo na Assembleia da República traduziu-se num novo e grave ataque aos trabalhadores e pensionistas, especialmente aos da Administração Pública e do setor empresarial do Estado, pondo em causa as funções sociais do Estado e o normal funcionamento dos serviços públicos.
A UGT optou, desde o primeiro momento, pela via do diálogo, com o objectivo de melhorar a proposta de OE e de atenuar os impactos que esta teria sobre as famílias, trabalhadores e pensionistas, tendo como objectivo encontrar solução socialmente mais justa e mais equilibrada em termos económicos e de emprego. Nesse sentido, reunimos com o Presidente da República, com Grupos Parlamentares e com o Governo e nunca deixámos de, em sedes distintas, deixar de expressar as nossas posições e reivindicações.
Porém, não obstante todos os nossos esforços, o Orçamento do Estado para 2014 foi ontem aprovado na Assembleia da República, com pequenas alterações que, globalmente, vão no bom sentido, mas que são manifestamente insuficientes para corrigir ou atenuar os graves problemas de que enferma o OE, mantendo-se assim um conjunto de medidas que agravam ainda mais as injustiças sociais, fortemente lesivas para trabalhadores e pensionistas e algumas delas de constitucionalidade duvidosa.
Também noutras matérias o Governo foi insensível aos argumentos da UGT e de outros parceiros sociais, rejeitando liminarmente aplicar o aumento do salário mínimo nacional a 1 de Janeiro de
2014, atenuar os cortes nas pensões de velhice, discutir a idade legal de reforma e desbloquear a negociação colectiva, áreas que consideramos da maior importância para os trabalhadores e para o País.
Os resultados das políticas aplicadas por decreto, revogando ou sobrepondo-se à negociação colectiva estabelecida pelos parceiros sociais, visam unicamente a destruição do modelo e, no limite, a destruição da própria negociação colectiva e de qualquer regulação nas relações de trabalho.
Em dois anos, as convenções colectivas foram reduzidas a 1/3 da média dos últimos anos e o número de trabalhadores abrangidos dificilmente passará dos 15% no final de 2013. O congelamento e o condicionamento da extensão das convenções foi o alvo escolhido, impedindo o cumprimento da lei no que se refere à descentralização da negociação colectiva e à introdução da flexibilidade interna negociada. A via preferida é a desregulamentação total, a competição sem regras e o desrespeito pelo factor trabalho.
Entre as condições de trabalho que contribuem para a sua dignidade e para a promoção da negociação colectiva, a remuneração mínima mensal garantida (RMMG), sem actualização desde
2011, é fundamental no combate à diminuição da pobreza e ao restabelecimento da esperança de milhares de trabalhadores. Para além do brutal aumento do desemprego, o número de trabalhadores abrangido pela RMMG passou de 6%, em 2007, para mais de 13% no ano corrente, contribuindo para o aumento do número de trabalhadores pobres e para a segmentação do mercado de trabalho.
É a partir das convenções sectoriais e dos sectores de trabalho intensivo, alguns no sector exportador, que é possível dinamizar a negociação colectiva, sendo um factor preponderante a actualização do salário mínimo que irá determinar novas situações nos sectores com mais potencial económico.
Apesar das declarações políticas piedosas em sentido contrário, as empresas em geral, mesmo as que estão em melhores condições, baseiam a sua actividade em salários baixos por disporem de um imenso exército de desempregados a quem impõem salários baixos, trabalho precário e, cada vez mais, situações humilhantes.
A UGT exige a retoma do diálogo tripartido com consequências imediatas e simultâneas no que respeita à actualização do salário mínimo e na dinamização da negociação colectiva. Como já muitas vezes foi afirmado pela UGT nas suas contribuições para um diálogo com resultados, a haver ainda rigidez no quadro legal que impeça a competitividade das empresas, ou outros argumentos sem fundamentos na actualidade, a rigidez teimosa manifesta-se do lado do Governo e da Troika, que insistem em limitar e desprezar a capacidade negocial dos parceiros sociais e em impor soluções inqualificáveis e inconstitucionais pela via legislativa.
Assim, o Secretari ado Naci onal da UGT, r euni do a 27 de N ovembr o de 2013, deci de :
1. Manifestar a sua oposição ao Orçamento do Estado para 2014, ontem aprovado pela Assembleia
da República. É um Orçamento que traz mais austeridade ao País, que continua a penalizar fortemente os trabalhadores e pensionistas, especialmente os da Administração Pública e do Sector Empresarial do Estado, e que não cria as necessárias condições para o crescimento económico, a promoção do emprego e o combate às desigualdades.
& – Desta forma, a UGT irá requerer ao Senhor Presidente da República, ao Senhor Provedor de Justiça e aos Grupos Parlamentares na Assembleia da República que suscitem ao Tribunal Constitucional o pedido de fiscalização da constitucionalidade da Lei do Orçamento de Estado para 2014.
2. Registar a decisão do Sr. Presidente da República de requerer ao Tribunal Constitucional a fiscalização preventiva de algumas normas do diploma sobre a convergência do regime de protecção social da função pública com o regime geral de segurança social.
3. Mobilizar-se na defesa do Estado Social, nomeadamente em áreas fundamentais como a Escola pública, o Serviço Nacional de Saúde e a Segurança Social pública, essenciais para atenuar os impactos negativos das políticas de austeridade, reafirmando que a Reforma do Estado não pode ser conduzida numa perspectiva de cortes e redução de despesa, mas sim visar a melhoria do funcionamento da Administração Pública, da acessibilidade e qualidade dos serviços públicos e da sustentabilidade financeira a médio e longo prazo.
4. Defender o aumento do salário mínimo para 500 € em Janeiro de 2014, exigindo que o Governo respeite as suas obrigações e apresente urgentemente à CPCS o relatório sobre a actualização da RMMG, com avaliação de impactos.
5. Saudar a resolução aprovada pela Confederação Europeia de Sindicatos (CES) que sublinha que o caminho para a saída da crise não passa pela austeridade, mas pela solidariedade europeia e, neste sentido, reafirmar a necessidade de consubstanciar um Contrato Social para a Europa e de novas políticas de investimento a longo prazo, que promovam o desenvolvimento sustentado e o emprego de qualidade lançando, uma vez mais, o repto ao Governo para que estas matérias sejam discutidas com os parceiros sociais.
6. Exigir a retoma do diálogo tripartido em sede de concertação social, com consequências imediatas e simultâneas no que respeita à actualização do salário mínimo e à (re)dinamização da negociação colectiva, nos termos dos Acordos de Concertação Social de 2006 e de 2012 subscritos pela UGT.